Para uma vertente dos defensores da educação integral, ela não precisa, necessariamente, ser realizada dentro da escola. Pelo contrário. Eles defendem que o conceito de educação integral prevê que o processo de conhecimento e aprendizagem contemple uma apropriação do espaço público como um todo, com apoio comunitário - uma das bases da ideia das Cidades Educadoras (leia mais nas páginas 30 e 31). Para isso, cada vez mais as escolas que procuram uma formação integral para seus alunos dialogam com parques, museus, igrejas, clubes, ONGs ou a espaços públicos diversos. É o que defende Maria do Carmo, do Cenpec, para quem a educação não pode ser circunscrita à sala de aula. "Temos lutado para que não seja preciso ampliar muito o tempo (de escola), mas sim circular nos espaços da própria comunidade", diz.
O
conceito de espaço é importante na medida em que permite demonstrar que não só
o conteúdo básico, mas também as outras dimensões de aprendizagem que fazem
parte da ideia de educação integral podem ser transmitidos em qualquer
contexto. "É possível aprender em qualquer espaço, tanto formal quanto
informal", diz Evelise, da PUC/PR. Já na opinião de Jaqueline, do MEC, um
projeto de educação integral tem o dever de diminuir os muros da escola e
aproveitar os espaços públicos. "O espaço urbano é muito rico, permite o
acesso a bens culturais a que muitos (alunos) da periferia não teriam
acesso", diz ela, lembrando que as aulas em praças compõem uma ideia que
remete ao filósofo Platão. "Não adianta as escolas ficarem de costas para
a comunidade", diz.
Janaína,
da Unirio, explica que a educação em ambiente externo desenvolve na criança a
importância do senso de comunidade e favorece, do ponto de vista da
aprendizagem, a correlação entre conteúdos. "Uma aula de canto em uma
igreja, por exemplo, pode facilitar o estudo de aspectos históricos ou
matemáticos por meio da arquitetura. Essa perspectiva de ampliação das possibilidades
pede formação em teatros, em museus", diz. Na prática, o mapeamento
realizado pelo Neephi mostra que a sala de aula é, ainda, o local mais
utilizado para a prática de atividades em jornada ampliada. Na escola, os
outros principais locais citados foram o pátio, a quadra de esportes e a
biblioteca. Fora dela, o local preferido para as atividades são quadras/campos
de futebol, seguido por praças/parques, bibliotecas, espaço de outras
secretarias, clubes e associações comunitárias.
Mesmo o
papel do professor passa por mudanças quando se fala em educação integral. Além
da necessidade de integrar currículos, o que faz com que seja necessário
estreitar o contato entre os docentes, a escola passa a ser palco de ação de
educadores da própria comunidade, muitas vezes de forma voluntária, ou dos
chamados "oficineiros", responsáveis por conduzir projetos
específicos. Ainda que o professor continue sendo o principal responsável pelas
atividades em jornada ampliada, o mapeamento do
Neephi mostra a presença de estagiários, voluntários, funcionários de ONGs e agentes culturais, entre outros.
Neephi mostra a presença de estagiários, voluntários, funcionários de ONGs e agentes culturais, entre outros.
Jaqueline,
do MEC, diz que a presença de estudantes universitários e pessoas da comunidade
faz parte da ideia de educação integral defendida pelo governo. "É
desejável que o pessoal do cinema, do teatro, da dança entre na escola, não
para tomar o lugar do professor, mas para enriquecer a prática", diz. Além
disso, a universidade também precisa estar preparada para dar respostas às
demandas dessa proposta educacional na formação docente. Vitor Paro, da USP,
resume a questão: "A educação integral se faz na sociedade, a criança não
depende apenas do educador. Precisamos superar esse modelo de escola que já
dura 300 anos", diz.
Para além
dos ideais educacionais que deveríamos perseguir, resta, no entanto, uma
questão de fundo em relação às estratégias a serem escolhidas pela educação
pública brasileira para materializar estes mesmos ideais. Sabendo-se, em função
dos números apurados pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que o custo/aluno/ano
eleva-se em até 60% para a adoção da jornada estendida, vale mais a pena
investir no aumento desse tipo de oferta ou na consolidação dos turnos
existentes em bases mais aceitáveis, provendo infraestrutura física e humana
para seu funcionamento? Se as duas coisas puderem ser feitas ao mesmo tempo,
excelente. Caso não, é preciso que se discutam prioridades.
http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/156/mais-tempo-para-que-234746-1.asp
Oficina de Jornal da Escola Antônio Monteiro
Esporte da Escola Francisco Amaral
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